Os Pintores de Canos é uma peça que apresenta em cena uma visão, de experiência feita, do dramaturgo Heinrich Henkel, ele próprio um operário.

Dois operários, pintores de canos, trabalham mecanicamente num lugar subterrâneo, onde preservam a manutenção dos canos através da pintura, e é neste local - por vezes claustrofóbico e ao mesmo tempo de uma imensidão infinita, devido à perenidade do seu trabalho - que refletem sobre as suas vidas e as díspares e divergentes perspetivas com que as testemunham. Por um lado, temos um operário mais velho, de meia-idade, um profissional veterano, que aceita impassível a sua vida e todas as condições que esta lhe oferece, sem as rebater. Por outro lado, temos um jovem operário que questiona de forma contestatária as perspetivas do colega mais velho. Este principiante proletário não aceita a apatia que esta função lhe propõe, tentando contorná-la com algum sentido de lazer e desenfado, mas isto só seria possível se colher a aprovação e cumplicidade do seu provecto colega, e assim se iniciam as discórdias e conflitos dos representantes destas duas gerações, tão afastadas pela idade como pelo pensamento.
Trata-se de uma criação cénica que procura ultrapassar os debates geracionais, abrindo o pano para a reflexão sobre as fragilidades da sociedade mais capitalista e menos humana, onde todos são substituíveis, enfrentando o medo do desemprego, os pequenos poderes e as grandes misérias.

Meio século depois da escrita desta peça, experienciamos uma conjuntura global de sombria instabilidade nos mais variados setores, sem resolução à vista, também no que respeita à realidade laboral.
Parece-nos oportuno levar à cena estes pintores de canos, que, nas palavras de Heinrich Henkel, revelam muito do que ainda se vive no mundo do trabalho através de humor e pessimismo. Sendo o humor uma característica congénita ao grupo A Barraca, abdicamos do pessimismo – nós, discípulos desse outro marxista sui generis Helder Mateus da Costa, vamos pelo humor e pelo otimismo sartriano que ele nos ensinou. É por isso, nessa paternidade que a arte teatral nos proporciona, que dedicamos, com gratidão, este espetáculo ao nosso Helder Mateus da Costa.
Com interpretações dos atores e comparsas Sérgio Moras, Vasco Lello e Samuel Moura, pintores de canos, atores d'A Barraca, os impertinentes do costume com as suas parvoíces (palavra favorita no léxico do Helder Costa).
Adérito Lopes
12 de Janeiro a 26 de Fevereiro 2023
Quintas e sextas às 19.30h, Sábados 21.30h, Domingos 17.00h
Sala 1 do Teatro Cinearte
Largo de Santos, 2
1200-808 Lisboa
FICHA ARTISTICA E TÉCNICA
Os Pintores de Canos
Dramaturgo | Heinrich Henkel
Encenação | Adérito Lopes
Interpretação | Sérgio Moras e Vasco Lello, participação de Samuel Moura
Direção técnica e desenho de luz | Vasco Letria
Sonoplastia e operação de som | Ricardo Silva
Montagem e operação de luz | Ruy Santos
Cartaz e design gráfico | Inês Costa
Costureira | Elza Ferreira
Assistência operacional | Sona Dabo
Produção | A Barraca